Histórias de Bus Session: o único passageiro Jamiroquai (2006)

(por Fábio F. Nunes, criador e responsável pela Friends Session)

Já falamos sobre questões associadas à demanda e viabilidade de excursões para certos eventos, ingressos, evitar cancelamento de excursões de última hora, mas a história que vou contar aqui muita gente não conhece. E enquanto não sai o livro do Bus Session…

Logo depois de criar e participar da organização das primeiras excursões (Stones e U2 em fevereiro de 2006), o compromisso com a qualidade e com realizar os sonhos de fãs fez com que eu passasse a cuidar sozinho do Bus Session. O primeiro dessa nova fase foi Santana em Porto Alegre, dia 15 de março, que em resumo eu vendi para cambistas 17 ingressos que paguei R$ 1.700 por apenas R$ 150. Ou seja, “ré maior”.

Nesse período acontecia também a venda de ingressos para o Jamiroquai em São Paulo, dia 24 de março. Com apenas o desejo de fazer o Bus Session virar realidade, sem nenhum dinheiro no bolso e medo de esgotamento imediato (naquela época isso acontecia, acreditem), consegui que um amigo investisse R$ 4.800 para comprar 40 ingressos a R$ 120 cada com a promessa de retorno das taxas de conveniência. A maioria ainda tinha muita desconfiança de comprar online (até pelo fiasco que foram as vendas de U2) e na minha cabeça de fã que sabia que Jamiroquai já tocara para um Pacaembu, estava certo que lotaria o Bus Session.

Cartazes espalhados pela UFSC, Orkut “bombando”, e logo nos primeiros dias de venda apareceu o primeiro e “desafiador” cliente. Um pacote Bus Session com ingresso custava exatos R$ 359 e o seu pedido foi “eu sou muito fã de Jamiroquai, só tenho R$ 300, que foi o que eu paguei na outra excursão que consegui cancelar, mas com aquele cara eu não vou de jeito nenhum e não posso perder esse show”. Além do discurso comovente (pegou no meu “ponto fraco” da “missão” de realizar sonhos) eu imaginava que apareceriam muitos outros mais, que faltaria lugar no ônibus, e no final daria tudo certo.

Os dias passaram, outros dois clientes interessaram-se, mas à época ninguém conhecia o Bus Session e tampouco estava disposto a pagar um pouco mais caro por um ônibus com dois andares, camiseta, conforto (o padrão do mercado eram ônibus, digamos assim… fuleiros). Foi quando eu percebi que não conseguiria vender as vagas e, diante do bolso vazio, para manter a amizade com o investidor, teria que vender aqueles ingressos.

Criado tópico no fórum da comunidade do Jamiroquai no Orkut, começaram a aparecer os interessados para os nossos ingressos (já que esgotaram na bilheteria), alguns aqui de Floripa que foram de avião (era o tempo das promoções de passagem aérea a R$ 1) e vários de São Paulo.

Chegado o dia do embarque, entrei em contato com a excursão concorrente de Florianópolis, que me reservou as vagas e permitiu pagar no embarque. Ele sabia quem eu era, afinal foi quem “socorreu” dois passageiros que a “agência parceira” das excursões de Stones/U2 fez overbook e faltou lugar para retornarem com o ônibus do segundo show.

Combinei carona com o “Rod Tidwell” (nome do jogador de futebol do filme “Jerry Maguire”), o primeiro e único cliente, cujo irmão levaria de carro até o embarque às 23h00.

Enquanto eu sacava do banco o dinheiro para as passagens a menos de uma hora para o embarque, o organizador da excursão me liga com a notícia que vendera as nossas vagas para duas pessoas de Balneário Camboriú e não poderia nos levar. Isso mesmo que você entendeu, eu estava prestes a falhar na realização do sonho do único cliente que confiou em mim, sem contar o prejuízo (e ficar em dívida com o amigo) com os cerca de 30 ingressos que eu teria de entregar para os diversos compradores espalhados por São Paulo.

Para encurtar a história, liguei para o “Rod Tidwell” na base do “tenho uma boa e uma má notícia” e anunciei que eu não falharia na promessa que fiz com ele. Corremos para a rodoviária, pegamos um ônibus de linha até Curitiba às 23h15, de onde pegamos outro até São Paulo, onde o meu primo nos esperava de carro para fazermos as “correrias todas”.

O “Rod Tidwell” jamais visitara São Paulo até então, e o fato de entregarmos os ingressos em vários pontos da cidade fez com que ele conhecesse desde o MASP até a Daslu. Eu pude ainda ir pessoalmente conhecer a Mondo Entretenimento e retirar os 150 ingressos do Jack Johnson já pagos (sobrou outra penca, mas isso é outra história), sem contar passar um dia inteiro com o meu primo.

Ingressos entregues, grana do amigo recuperada, depois de presenciar a cara de espanto do concorrente que não acreditava que estávamos ali, fomos ao show do Jamiroquai. Nem na possibilidade mais otimista conseguiríamos retornar no último ônibus para Floripa ou Curitiba, então fomos dormir na casa dos meus primos para voltarmos no dia seguinte. Depois de realizar seu sonho, “Rod Tidwell” pouco se importava com o horário que chegaríamos a Floripa.

Eu tinha um monte de assuntos a resolver dos Bus Session Jack Johnson que aconteceram duas semanas depois e não podia perder aquele sábado de trabalho. Então enquanto o Bruno preparava nossas acomodações, comprei online nossas passagens aéreas de volta, que por ser em cima da hora, cada uma delas mais cara que os R$ 300.

Seria uma viagem qualquer, um show qualquer, um trabalho qualquer… mas foi a primeira viagem à São Paulo, a primeira viagem de avião de “Rod Tidwell”, a primeira turbulência (e a bronca do passageiro apavorado no banco ao lado enquanto a gente se divertia naquela “montanha russa” foi algo…), a primeira experiência de “música, amizade e diversão”, o primeiro “Aero Session”, e para mim a certeza de quão recompensador é realizar sonhos de fãs.

O irmão dele até foi em outros Bus Session, o “Rod Tidwell” nunca mais esteve numa festa sobre rodas, mas até hoje é a quem refiro como “Bus Session Jerry Maguire”. Considero todos os nossos amigos da mesma forma, mas definitivamente os outros mais de 6 mil amigos que ajudamos a realizar sonhos devem muito a uma reputação que sobreviveu àquele show do Jamiroquai em 2006 e tudo o que levar a sério a relação do fã com seu ídolo significa até hoje, custe o que custar. E isso vai muito além do “marketing de relação com o cliente”.

Com apoio da produção do Jamiroquai em Florianópolis, consegui um ingresso para o “Rod Tidwell” reviver aquele sonho novamente. Novamente, era o mínimo que, na qualidade de “ambassador of kwan”  eu poderia fazer por ti, meu caro.

A gente se encontra na estrada.